O que é realmente o ECUMENISMO?

Um dos objetivos principais do Concílio Vaticano II foi a reintegração de todos os cristão, segundo a Unitatis Redintegratio 1. Para isso o Magistério nos tem orientado nos últimos 50 anos pós-conciliares acerca da necessidade de uma busca sempre mais acentuada pela unidade entre aqueles que professam a messianidade de Jesus, pregam o kerigma comum, a fé trinitária, o lugar privilegiado da Escritura Sagrada e tantos outros pontos que constituem as bases da fé cristã. Diferente do diálogo inter-religioso que busca unidade entre membros de religiões diversas (cristãs ou não),o Ecumenismo é este movimento no qual se busca a unidade entre igrejas exclusivamente cristãs . Para isso ocorrem encontros, debates e reuniões diversas para se colocar em pauta comum aqueles elementos da fé que nos unem que, diga-se de passagem, são mais numerosos do que aqueles que nos separam(UR 4). É bom que se entenda que este encontros ecumênicos não são uma espécie de frequência de católicos e cultos evangélicos ou Missas nas quais pastores se sentam no presbitério ao lado dos padres ou pregam a Palavra na liturgia. Não é nada disso! Digo dessa forma porque aqueles que nos atacam por fazer este trabalho ao a entender que é desse tipo que eles têm em mente quando se fala em ecumenismo. Se fosse realmente isso, nem eu mesmo faria parte do movimento ecumênico. Este trabalho não intui de forma alguma confundir os credos de cada comunidade cristã e muito menos fazer com que cada uma renuncie a uma parcela de sua convicção religiosa em nome de uma política de boa vizinhança. Qual o objetivo concreto deste trabalho? O objetivo é proporcionar ambientes nos quais católicos e evangélicos protestantes possam conviver em atmosfera de fraternidade e comunhão, na oração e na leitura da Palavra. Para muitos isso soa como uma quimera, algo impossível ou utópico, mas para nós do movimento ecumênico não é outra coisa senão um fato, algo que já temos experimentado numa série de eventos já ocorridos. Cabe aqui ressaltar que o que se pretende com o ecumenismo não é a capitalização de evangélicos para a Igreja católica. O ecumenismo visa figurar aquela unidade plena desejada por Jesus, pois muitos não creem no Evangelho em virtude da divisão dos cristãos. Essa divisão foi feita por nós homens. Ela é fruto do nosso pecado, sem que na história tenha faltado culpa tanto de católicos quanto de protestantes (UR 3). Só Deus pode sanar as consequências de nosso pecado, e é por isso que nos encontramos. Só se estivermos junto em oração, como no Cenáculo, é que o Espírito poderá restaurar essa unidade plena outrora maculada por nossos caprichos e pecados históricos. Encontramo-nos para estarmos juntos, e pronto. Comunhão em si mesmo é algo precioso. Desta comunhão brota um desejo sincero de buscarmos a Cristo e aos dons do Espírito Santo. Nós do ENCRISTUS (encontro de cristãos na busca de unidade e santidade) fazemos da oração em comum o ponto central de nossas reuniões. Somos carismáticos e pentecostais, de tradições cristãs distintas, mas com um profundo desejo de vivermos os dons espirituais independentemente das perspectivas teológicas que cada tradição possua a respeito dos mesmos. Na prática, línguas estranhas são línguas estranhas, profecia é profecia. Desejamos seus efeitos edificadores em nossas vidas.

Por que tantos criticam este trabalho e o veem com tanta estranheza e preconceito? Penso que isso se dê por pelo menos três razões. A primeira delas é por total desconhecimento daquilo que de fato vem a ser o ecumenismo. Geralmente são pessoas que não visitaram os textos do Vaticano II a respeito disso e por ideologias próprias discordam da eclesiologia contida nos textos conciliares, chegando, com isso, a se posicionarem não só contra as iniciativas ecumênicas, mas contra tudo aquilo que é areal ortodoxia da fé católica. Essas pessoas tem problemas não só com ecumenismo, mas com a liturgia de Paulo VI, com as estruturas pastorais criadas para beneficiar a salvação do nosso povo. Enfim, o problema delas não é com o Ecumenismo propriamente dito, mas sim com o Concílio Vaticano II. A segunda razão é a corrente distorção conceitual. Quando se fala em ecumenismo, algumas pessoas já confundem com diálogo inter-religioso, que é o diálogo entre cristãos e outras religiões não cristãs (aliás também previsto pelo VaticanoII na Nostra Aetate). Já acham que são encontros com pais de santo, bruxas ou coisa do tipo. Criam uma ideia de ecumenismo sem nem mesmo saber o que realmente é. Outros acham que o padre vai rezar uma missa e fazer aquelas “inculturações” descabidas em nome de uma unidade de credos. Outro absurdo! Mas uma terceira razão ainda é possível. Aqueles que possuem insuficiente catequese e falta de profundidade na própria fé católica acabam por ver como um perigo a aproximação com pessoas que tenham outras concepções que não as nossas, pois tal atitude seria nociva à nossa fé e nos confundiria as ideias. De fato, para quem não tenha consistência no próprio catolicismo, penso que muito mais urgente do que dialogar com evangélicos é a necessidade de estudar sobre sua própria Igreja. Ecumenismo é alimento sólido. Não pode ser dado pra quem não tem como digerir, ou pra quem nem dentes tem para mastigar. Feijoada não é para bebês! Antes de tudo, o ecumenismo é um dom do Espírito para ser posto a serviço da unidade da Igreja. Quem não recebeu este dom não tem como apreciá-lo de fato, e o verá com estranheza. Recordo muito do tempo em que eu, por exemplo, achava oração em línguas umas coisas feia, absurda e fanatizada. Até o dia em que eu recebi o dom. Hoje não sei o que é vida espiritual sem ele. Também me recordo de quando eu tinha aversão ao latim e ao gregoriano na liturgia. Achava coisa retrógrada e fora de propósito. Até o dia em que o Espírito Santo e os estudos me ensinaram a mistagogia da Missa e a correta compreensão que se deve ter dos ritos sacramentais. Hoje sou apaixonado por tão precioso patrimônio da fé católica. Com o ecumenismo foi exatamente assim. Lembro como se agora fosse aqueles dias em que a raiva e a indignação para com evangélicos protestantes me orientavam os sentimentos. Até o dia em que recebi o dom de ter em mim os sentimentos da Mãe de Deus, da Mãe que ama os filhos da Igreja ainda que estes filhos estejam aqui ou acolá. Sentimentos de Igreja Mãe e Mestra, e não mais de irmã birrenta como a do irmão mais velho na parábola do filho pródigo. Só peço aos que não simpatizam com este dom, que orem por nós que o recebemos ao invés de atacar; que estudem ao invés de disseminar ideias equivocadas e que peçam ao Santíssimo Sacramento o discernimento adequado sobre o que por amor a Igreja Católica temos feito de ecumênico. Peço que, com sinceridade e insistência, peçam a vontade de Deus em suas vidas também quanto ao que pensar sobre o assunto. Se a Sé apostólica de Pedro já afirmou que ecumenismo não é mero apêndice da fé católica, mas parte orgânica de sua vida e de seu todo (Ut unum sint, 20), então quem não concorda é que deve buscar sua conversão à Fé Católica da Igreja. Até que se encontre em Jesus o convencimento para tanto, só há para um fiel católico o direito ao silêncio, e não à contestação. Contestar fará do fiel alguém tão protestante quanto aqueles a quem ele pretende manter longe de nós. Nossas crises eclesiológicas não se curam em debates, mas no sacrário. Ali está a cabeça da Igreja. Não queira pensar com outra cabeça que não a da Igreja. Assim serás pedra fundamental com Cristo, e não pedra de tropeço para teu irmão.

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