Vamos primeiro entender a oração do terço e o que a Igreja ensina a respeito para concluirmos se é ou não pecado gostar de reza-la. A oração do santo terço ou do rosário constitui uma das mais antigas da Igreja. Foi se formando gradualmente no segundo milênio da nossa era e continua sendo uma oração estimulada pelo Magistério e por numerosos santos. O papa João Paulo II enfatizou-a instituindo em 2002 o ano do Rosário e formulando cinco novos mistérios para o rosário mariano. Na ocasião escreveu uma carta apostólica chamada Rosarium Virginis Mariae que aconselho ser lida para melhor compreensão do tema. Ali nessa carta o papa deixa claro que o terço é uma oração cristocêntrica (com Cristo no centro), pois tem a intenção de meditar os mistérios da salvação operada pelo Senhor. Funciona como um compêndio, um resumo do Evangelho já que os principais fatos da vida de Cristo são contemplados por meio do rosário. Ela é uma oração de contemplação. A repetição das Ave-Marias não pretende, em primeira instância, significar uma súplica à Virgem Maria, mas sim uma união a ela para que, com ela e ao lado dela, se medite aquele mistério do Cristo que é proposto. Mais do que uma oração a Maria é uma oração COM Maria a Jesus, para olharmos Jesus como ela olhou e olha. No meio de cada Ave-Maria está o nome JESUS para deixar claro que é uma oração que tem por finalidade o próprio Senhor. Num mundo em que muitos têm procurado tantas formas alternativas de religiosidade, recursos de recolhimento e meditação, o rosário se torna uma excelente proposta tão antiga e ao mesmo tempo tão nova e pertinente para os dias atuais. Voltar a atenção aos mistérios da salvação significa meditar sobre aquilo que realmente pode dar respostas aos anseios mais profundos de cada ser humano. Diante disso podemos tirar algumas conclusões sobre o porquê de alguém não gostar de rezar o terço. Alguns podem não gostar por não compreenderem do que se trata e, portanto, não saberem rezar como se deve. Limitam-se a mera recitação das fórmulas ao invés de mergulhar nos mistérios, o que torna a oração do terço algo enfadonho, sem graça e árido. O erro está em quem reza, e não no rosário em si mesmo. Outros podem não gostar porque, na verdade, têm problemas não com o terço em si, mas com a oração de modo geral. Não param para falar com Deus, não disciplinam a própria rotina de forma a torná-la orientada a Jesus Cristo e não se convenceram de que a história da salvação meditada no terço é a nossa história também. Somos parte integrante dos mistérios meditados. A oração do terço não é, conforme o Magistério, uma obrigação como o é, por exemplo, a liturgia para nós católicos. Mas ela é uma forma de aprofundar e até de continuar na própria vida aquilo que se celebra na liturgia dos sacramentos. Por isso mesmo o terço é um sacramental. Um bom católico não se restringe a fazer apenas o que é essencial, mas por amor desejará aperfeiçoar sempre mais sua espiritualidade. Se a Igreja propõe o terço como um meio para isso, penso que um sentimento de repúdio a ele seja não o pecado propriamente dito, mas seja sim o sintoma de um pecado anterior que é o da acídia, ou seja, da preguiça espiritual e falta de empenho em estar em comunhão com Deus. Uma pessoa assim acaba por não gostar do terço, mas também de todas as outras formas de oração pessoal. Isso terá como consequência uma gradativa aversão à Missa, à confissão e outras formas de piedade cristã, como uma bola de neve que vai aumentando sempre mais. “Vigiai, pois, em todo tempo e orai” (Lc 21,36a).